programação do dia: parir na ikesaki

sua prima-tia me deu um esporro pelo telefone, seu pai não parecia muito feliz carregando as sacolas, mas, como sua avó estava comigo e ainda bastante animada entre as prateleiras, não me senti assim tão louca por te levar pra passear na liberdade no sábado à tarde. tá certo que as ruas estavam lotadas, a loja mais ainda, mas acabamos resolvendo tudo rapidinho, e juro que não chegamos nem perto de um parto no meio daquele monte de cosméticos e mocinhas enlouquecidas. a questão é que eu queria aproveitar nossa ida ao poupa-tempo da sé (mamãe perdeu o RG há alguns anos e nunca se preocupou em tirar segunda via, só mesmo quando ficou sabendo que sem ele não daria pra te registrar) pra comprar o que faltava na nossa cestinha de higiene - toneladas de algodão, cotonetes que sua gata fica tentando roubar do potinho e alguns absorventes. isso fora os excelentes e baratíssimos pincéis pra maquiagem que, espero, você não se interessaria em usar, a menos que fosse pra besuntar com tinta as nossas paredes.
amanhã busco seu submarino em moema, prometo. de resto, sweet prince, tá tudo pronto, chegue quando quiser.
até já,
(L)

verdadeiro ou falso (TP)

ao que parece, você está querendo nascer. ontem seu universo teve a primeira intersecção com o mundo aqui fora - nada agradável, suponho, receber um cutucão do dedo indicador do obstetra na cabeça, mas um dia você vai saber que era necessário. daí que não dá pra saber se isso te estressou ou se, coincidentemente, você se cansou da quitinete que alugou oito meses e meio atrás. a lua só vai ficar cheia daqui a pouco menos de um mês, e diz seu bisavô índio que é nessa época que muitos bebês decidem dar as caras na maternidade - e que é justamente quando você deve chegar. acontece que, ainda que não houvesse nenhum dos sinais que você vem me mandando nas últimas 48 horas (a dor, o tampão melequento e seus movimentos diferentes), mesmo assim eu apostaria no pressentimento de que você não é do tipo que vai na onda da maioria.